Músicos na Paulista
Um breve exercício antropológico
Research / Service Designer
Esse é um exercício despretensioso de jovens designers para entender um pouco mais sobre como ouvir as pessoas e dar a merecida atenção pode contribuir e muito para a criação de serviços que sejam cada vez mais relevantes para elas, colocando em prática alguns dos processos da pesquisa etnográfica.
Este trabalho começou no dia 5 de outubro de 2018 na Pós-graduação de Service Design da Positivo, mais especificamente na aula
de Pesquisa Etnográfica da Carol Zatorre.
Mas seria possível montar um trabalho
de pesquisa etnográfica em apenas 4 saídas a campo?
Alguns diriam que é impossível. Onde já se viu, tá louco!
E na literatura encontramos um tempo de pelo menos 3 meses!
É realmente muito mais tempo do que as 36h que tivemos de aulas e trabalhos, mas, assim como na realidade do mercado, poucos projetos terão esse tempo dedicado a uma pesquisa etnográfica.
O nosso trabalho de imersão em si durou apenas 4 dias, algo em torno de 16h,
o que foi suficiente para nos tirar da zona de conforto e nos aproximar um pouco mais das pessoas e quebrar alguns preconceitos.
Porque a antropologia é uma pesquisa que se constrói na interação com o grupo de indivíduos pesquisados, assim como o design.
Carol Zatorre, Antropóloga
Planejamento
Para nos organizarmos, otimizar o trabalho e evitar a dispersão durante o campo, seguimos o esquema: cenários, atores e regras.
A avenida Paulista foi o nosso cenário e lá encontramos os músicos, os atores que escolhemos, alguns estavam simplesmente divulgando o seu trabalho, enquanto outros lutavam para ganhar dinheiro para comprar comida.
Com essas definições fizemos uma pequena desk research e, logo em seguida, alinhamos o conhecimento do grupo com a clássica Matriz CSD.
Matriz CSD
Essa organização prévia foi importante para evitar o senso comum e ter desde as primeiras observações uma forma mais clara de organizar e classificar todo o material de campo.
A ideia da primeira ida a campo era apenas contemplar, estar livre para ser impactado pelos estímulos sensoriais ao longo de toda a caminhada, observando como tudo se comportava, prédios, pedestres, comércio, turistas, músicos e o que mais ali estivesse, sem entrevistar ninguém. E essa foi a parte mais complicada, pois em muitas vezes queríamos puxar uma conversa com as pessoas.
Após essa primeira imersão, voltamos com alguns insumos e revistamos nossa Matriz CSD, criamos protopersonas, definimos manchas e montamos o roteiro que guiaria nossas conversas.
Protopersonas
Campo
Com manchas definidas voltamos para o campo, mas dessa vez mudamos para uma abordagem mais ativa conversando diretamente com os nossos atores.
Por mais que tenhamos criado perguntas para as entrevistas, não nos apegamos a elas, seguimos a essência do roteiro, deixando mais livre para o entrevistado expor seus sentimentos, suas dores e necessidades, sem engessá-lo.
Essas conversas mais livres foram muito enriquecedoras e nos aproximaram mais dessas pessoas, nos permitiram descobrir cada história de vida fantástica, como a do seu Lindomar, um ex-alcoólatra que no meio da conversa declamou o poema que fez no dia que parou de beber.
Todas as nossas conversas foram em duplas e, ao final de cada uma, compartilhávamos no WhatsApp o áudio com o conteúdo que ainda estava fresco em nossas cabeças. Uma técnica muito boa para todos do grupo estarem alinhados.
Mas o que importa ao olhar antropológico não é apenas o reconhecimento e registro da diversidade cultural, nesse e em outros domínios das práticas culturais, e sim a busca do significado de tais comportamentos: são experiências humanas - de sociabilidade, de trabalho, de entretenimento, de religiosidade - e que só aparecem como exóticas, estranhas ou até mesmo perigosas quando seu significado é desconhecido. O processo de acercamento e descoberta desse significado pode ser trabalhoso, mas o resultado é enriquecedor: permite conhecer e participar de uma experiência nova, compartilhando-a com aqueles que a vivem como se fosse "natural", posto que se trata de sua cultura.
José Guilherme Cantor Magnani, Antropólog0
Resultado
Depois de aproximadamente 14h de campo, conseguimos ouvir 9 pessoas, entre jovens, idosos, alcoólatras, equatorianos e até uma orquestra de violas caipiras. Consolidamos todo esse material em user boards, personas, principais aprendizados e 4 direcionamentos para ações que poderiam ser criados para essas pessoas.
User Boards
Personas
Principais aprendizados
😉
Tnks
Adelmo Neto
Caroline Corellas
Luiz Ordonio
Rafael Morroni
Renato Kassabian
Thiago Barreto